Julgamento (Shiken)

Kiska Morozov, no exercito desde os 12 anos de idade (crianças não foram poupadas na grande guerra), sua habilidade com armas era incomparável, sua habilidade em campo se tornou lenda na grande guerra, sempre obteve sucesso nas missões que seu país lhe impunha, da melhor ou da pior maneira.

Projeto super soldado, iniciado antes da Grande guerra, porém testado durante a mesma, o objetivo era criar um soldado mais rápido , mais inteligente , mais forte e mais obediente. Cinquenta e nove cobaias humanas , apenas um sobrevivente , o projeto foi um completo fracasso, e abandonado com o fim da guerra. Kiska estava mentalmente instável e sua falta de cooperação tornou a continuação do projeto impossível.

Efeitos colaterais dos implantes e produtos químicos utilizados nas cobaias do projeto:
Fortes dores de cabeça, fadiga muscular , falência multipla dos orgãos ( na maioria dos casos), diminuição da estimativa de vida, surgimento de pigmentação azulada nos olhos.
Nenhuma das pesquisas revelou instabilidade mental, o problema de Kiska nunca foi descoberto , a unica teoria era a de que ela não havia mudado nem um pouco de antes para depois da experiência, sempre fora daquele jeito.

Suas habilidades se provaram muito uteis para Skyhold , e não demorou para conseguir um cargo dentre os mais altos, um dos poucos lideres de Skyhold que ia até o campo de batalha. Ou melhor dizendo , que fazia questão de ir.

▼Na caçamba de um dos caminhões de transporte, em meio aos outros soldados, uma mulher entre 26 e 27 anos de idade, com altura e composição corporal acima da média se comparada a outras mulheres, vestida a mesma maneira que os outros soldados, apesar de ser um general famoso de Skyhold. Ela tinha um cigarro em sua boca , e aproximava-se do soldado a seu lado para que este o acendesse. Não dizia uma unica palavra durante toda a viagem , e nem mesmo enquanto aguardavam o fim do bombardeio.▼

▼O Comboio chegava a seu destino e Kiska finalmente se levantava, logo depois de todos os soldados saírem, a luz do Sol no deserto batia em seus olhos refletindo um brilho azul intenso. Ela colocava o cigarro que tinha nas mãos na boca e checava o pente da pistola que carregava na cintura, pulando no caminhão na areia do deserto e guardando a pistola em seu lugar. Falava com o soldado ao seu lado em voz baixa , dando algum tipo de ordem, e caminhava em direção aos alvos.▼

→ Que lugar complicado...

▼Um dos soldados lhe passava uma prancheta , com as informações e fotos sobre aquelas pessoas. Kiska caminhava até cada um deles e segurava em seus rostos enquanto colocava a prancheta ao lado , fazendo uma comparação, ela fazia isso com todos , porém , um deles não estava na prancheta.▼

→ Vejam só... quem seria essa?

▼Agachada do lado da garota Kiska dava tapinhas no rosto da mesma com intenção de acorda-la, ela não parecia nada preocupada com a situação , parecia tranquila , como alguém seguindo a própria rotina.▼

→ Oi...Oi...bom dia...é hora de acordar...

▼Quando a garota finalmente acordasse , Kiska lhe perguntaria calmamente▼

→ Quem é você?

Tudo parecia acontecer num piscar de olhos , num instante ela perdia a consciência durante o bombardeio , no outro via o rosto daquela mulher próximo ao seu, quem seria ela? por que estava ali? Kona não sabia , não conhecia o uniforme de Skyhold , assim como não fazia ideia das intenções dela ali.

Kona não tinha facilidade pra falar, seu corpo todo doía , e sua cabeça estava girando.

- Oi...eu.... é... Kona...eu sou... quem é você?

Só então Kona percebia que suas mãos estavam algemadas , e assim se assustava , conhecia muito bem algemas , na APC ela passava muito tempo algemada, por isso percebia que o que estava acontecendo não poderia ser bom.

- Ei! O que estão fazendo? Me soltem!

Então ela via todos ao por perto , desacordados e também algemados, sua preocupação era evidente , ela precisava fazer alguma coisa, mas mal conseguia se mexer , seu corpo não respondia , era como se algo estivesse sugando sua energia. "é isso! preciso acordar eles!"

- Pessoal! Acorda!! Gente vocês precisam acordar! Por favor!! Lei!!!!

Ela gritava com todas as forças que tinha para acorda-los , ela não conseguiria sair daquela situação sem a ajuda deles.

▼Enquanto escutava Kona falar e gritar Kiska não parecia se importar , não parecia ligar
se os outros membros daquele grupo acordassem. Ela enfiava o dedo mindinho na orelha enquanto olhava a prancheta procurando por alguma Kona, porém acabava não encontrando nada. Tirando o dedo do ouvido e soprando ela voltava a falar.▼

→ Ei..ei..ei... isso é mau não é? Você não parece estar aqui... o que eu faço agora?

▼Ela mais parecia falando consigo mesma do que com Kona , estava pensativa , ou pelo menos parecia estar, mas depois de pensar por uns 5 segundos ela estalava os dedos como se tivesse tido uma ideia▼

→ É isso! Eu só preciso me livrar de você não é? Só um segundo.

▼Kiska se levantava e jogava a prancheta para um de seus soldados , retirava a pistola da cintura e destravava, em seguida a apontava para a cabeça de Kona▼

→ Então é isso...

▼A general de Skyhold parecia desanimada com toda aquela situação, e sem duvidas essa era a verdade , encontrar um bando de inimigos desacordados não era muito animador▼

Lei havia apagado por ter defendido Kona com o próprio corpo, e principalmente suas costas estavam bastante debilitadas. Ao ouvir a garota gritar por ele e por todos, ele ia despertando... a princípio não percebia o que estava acontecendo... mas quando a imagem de Kona desesperada se formava bem a sua frente percebia tudo o que estava acontecendo.

Estava algemado, e deitado no chão. Lei se ajoelhava quase que imediatamente e ao tentar ativar sua aura por ter visualizado o número de soldados em volta não conseguia. Só então percebia que aquelas algemas não eram comuns, não conseguia manipular seu chi, tudo o que sobrava era força bruta.

- Kona... fica calma! Eu vou tirar a gente daqui!

Ele também estava desesperado, e logo atrás de Kona estava uma mulher loira, olhando para uma prancheta e coçando o ouvido. Quem era ela? Era algum membro da APC procurando vingança? Lei não conseguia fazer nada, com o corpo daquele jeito e não podendo utilizar chi era impossível sair daquelas algemas...

Logo aquela mulher não via Kona na lista, e decidia eliminá-la ali mesmo. O que Lei temia estava prestes a acontecer. Tentava utilizar da força bruta pra escapar, mas não fazia nem efeito. Tudo aquilo só fazia o rapaz se desesperar mais ainda, mantendo os olhos que eram quase sempre bem estreitos arregalados. Por isso acabava levantando a voz para aquela soldado.

- CALMA! NÃO FAZ ISSO! Ela... não tem nada a ver com a destruição da APC, fui eu que pensei em tudo!!!

Ele gritava com todas suas forças, até chegava a ficar ofegante depois. Esperando e torcendo para que ela o ouvisse...

Quando foi que perdera a consciência? Àquela altura do campeonato... ja não sabia mais dizer. Tudo parecia ocorrer em flashes, fogo e poeira baixando e diversos vultos saindo de um enorme veículo. Então era algemado. Algemado? Ninguem faria isso com ele. Não existem pessoas loucas o suficiente nesse planeta. Mais um flash... dessa vez Kona estava gritando, agora Lei parecia dizer algo.

- Huh? - Abria os olhos subitamente - Droga ! Seus vermes....

Como havia deixado o algemarem daquela maneira? Inadmissível! Recobrando totalmente os sentidos, KaiTen se dava conta da situação atual. A emboscada havia dado certo, todos estavam presos e algemados, tudo ali ficaria apenas pior se ele não reagisse. Tinha de fazer algo. Num primeiro momento, se desvencilhava dos dois soldados, com um chacoalho de ombros, logo tentava usar o chi de seu corpo para instanciar a postura do Tigre de Fogo, mas via que era inútil, não sabia ao certo, sabia que teria de usar a força bruta apenas. "Tch, força bruta? É o meu nome do meio..."

- AHHHHH ! - Com um estalo metálico, KaiTen quebrava as algemas, olhando para a garota loira com um cigarro, que parecia ser a líder ali e partia para cima dela com tudo. - NINGUEM ! PRENDE ! O DRAG-- !

Os soldados ali não eram meros paspalhos, iguais aos que ele e Lei detonaram meses atrás. Aquela parecia ser a força especial de Skyhold e haviam se preparado especialmente para o furioso KaiTen. Assim que disparava na direção de Kiska, dardos com tranquilizantes voavam em suas costas. Em uma situação normal, as agulhas dos dardos jamais perfurariam sua pele, mas os soldados miravam onde os ferimentos das bombas estavam abertos, por isso todo o sedativo era injetado no corpo do jovem Guerreiro, que caía de joelhos na hora.

- Não... não... ainda não... - Embora fraco, os olhos de KaiTen permaneciam vivos. - Sua... desgraçada !

Sem desistir, ele se erguia mais uma vez, firmando o punho com toda a força que tinha e direcionando um soco no rosto da garota militar. Quando seu punhos estava à milímetros do rosto de Kiska, os soldados não terminavam por ali. Correntes eram lassadas em seu pescoço, braços e pernas. Os soldados, novamente, iam puxando KaiTen para longe de sua líder e impedindo seus movimentos. Mais uma algema era colocada em seus pulsos uma dose concentrada de tranquilizante, injetada direto em seu pescoço. Sem conseguir fazer mais nada, KaiTen caía de joelhos, com a cabeça abaixada e tentando se manter acordado.

Aqueles gritos acordavam Neliel , mas antes provocavam uma forte dor em seu peito, era Kona sem duvidas , por que ela gritava? O que estava acontecendo?
Cercados , estavam cercados e presos, percebia que não podia mover suas mãos, estava algemada , em seguida olhava em sua volta , as almas , haviam sumido , Neliel não podia ver as almas de ninguém,  o que eles fizeram? Como eles fizeram? Tecnologia , Skyhold , só podia ser.

- Não...isso não tá certo.

KaiTen conseguia se soltar, era a chance de Neliel fazer algo, por um instante ela tentava se levantar , porém sentia a sola do coturno de um dos soldados lhe acertar a parte de trás da cabeça, ela caia de cara na areia, só ai percebia que não poderia fazer nada, mas não poder fazer nada não significa que você deva parar de tentar, por isso ela continuava se esforçando pra se levantar , queria salvar Kona , queria salvar todos ali, uma vez que foi sua ideia idiota que colocou todos naquela situação. "Eu só  queria que ninguém se machucasse...Como isso foi acabar assim?" É obvio como acabou assim , e ela teria visto por trás desse plano se não estivesse pensando somente em Kona quando sugeriu a direção. Era sua culpa, seu deslise , e por isso , ela não parava de tentar se levantar , por nenhum segundo. Não se importavam em seda-la , sua força era a de uma garota pequena , um simples soldado poderia segura-la.

- Me solta...Kona... KaiTen... pessoal... eu preciso... eu...preciso...

▼Kiska não precisava estar pronta para atirar, ela atiraria estando pronta ou não. Instantes antes de Kiska puxar o gatilho a voz de Lei ecoava em seus ouvidos. Ela parava imediatamente , o brilho nos seus olhos parecia aumentar levemente, como se aquilo fosse exatamente o que ela estivesse esperando todo aquele tempo. Jogava o que restava do cigarro em sua boca no chão. Em seguida outra voz , dessa vez de Mitsuko▼

→ Ora...você conseguiu Nee-chan acordou todo mundo.

▼Ela falava com Kona, sua tranquilidade era impressionante, nada do que acontecia ali parecia surpreende-la. Kiska estalava os dedos e esticava a mão na direção do soldado ao qual havia passado a prancheta anteriormente, o mesmo jogava a prancheta de volta. Kiska a segurava e voltava a folear as informações agachada, passava por Lei , em seguida Mitsuko, e quando começava a ler sobre KaiTen o garoto se libertava. Mas Kiska parecia não perceber , continuava lendo calmamente como se nada estivesse acontecendo, até mesmo quando o punho do garoto chegava a milimetros do seu rosto ela não olhava pra ele , nem por uma fração de segundos, era como se ele não estivesse ali▼

→ Hum...um dragão não é?

▼A general de Skyhold se levantava novamente e guardava a arma na cintura, ela parecia em duvida , coçava a cabeça como se tentasse se lembrar de alguma coisa▼

→ Como era mesmo o nome dele....Ah é isso, Divon-san! Vem aqui um instante.

▼Em meio as tropas um homem dava passos a frente , não parecia um soldado parecia mais um cientista que , apesar de usar roupas de soldado usava um óculos mas não carregava nada além de uma mala▼

→ Morozov-sama! Meu nome é Davon..não Divon...

▼Sem se importar com que o homem falava Kiska continuava▼

→ Divon-san...você pode repetir o que me disse quando me trouxe essas algemas?

▼Davon ficava amedrontado de uma hora para a outra , apesar de não demonstrar nitidamente , o homem começava a suar frio , e suas pernas tremiam , assim como sua voz quando respondia a pergunta▼

→Eu disse...que eram indestrutíveis , e que não precisava se preocupar... Mas eu não sabia que ele possuía tanta força mesmo sem usar sua aura!

▼No final de sua frase Davon gritava, mas Kiska não mudava seu tom , nem sua expressão, na verdade ela suspirava▼

→Isso não é bom Divon-san...não posso trabalhar direito se você me der informações erradas não é mesmo? Espero que esteja arrependido e que isso não se repita.

▼Era tudo o que ela falava , Davon sentia um grande alivio naquele momento , e tentava responder▼

→Não vai se repetir tenha certe-

▼A prancheta acertava seu rosto com força suficiente para derruba-lo, Kiska parecia a mesma , seus olhos brilhavam ainda mais e seu rosto parecia calmo, depois de derrubar o homem com aquela prancheta ela se colocava sobre ele e o acertava um soco após o outro no rosto, cada soco era suficiente para amassar um pedaço da face, e ela não parecia que ia parar 15 , 20 socos , 22 e finalmente ela parava, enquanto batia ela continuava falando normalmente com Davon como se estivesse num dialogo comum▼

→ Espero que esteja se arrependendo...espero que não faça isso novamente

▼Davon já estava morto, só então Kiska se levantava e caminhava até Lei enquanto limpava a mão na calça▼

→ Então... você diz que a culpa é sua... mas eu ainda acho que a culpa é daquela garotinha ali... que complicado o que faremos agora?

▼Kiska caminhava de um lado para o outro próxima de Lei, até que finalmente chegava a um consenso▼

→ Tive uma ideia , vamos fazer um julgamento, um jogo , se você ganhar eu não mato sua namorada (Ela percebeu , todos ali eram amigos da garota,  mas aquele ali era algo mais, podia ver isso em seus olhos) , se eu ganhar ela vai ficar aqui comendo areia por um bom tempo, o que me diz?

▼Antes mesmo que Lei pudesse responder Kiska continuava, caminhando até Kona enquanto puxava a pistola da cintura novamente▼

→ Então vamos começar, eu vou contar até 10 se você conseguir se livrar dessas algemas até lá você vence, se não a vitória é minha.

▼Destravando a pistola e apontando-a para a cabeça de Kona , Kiska começava a contagem▼

→ Um,dois...

Lei assistia tudo aquilo acontecer. Seu amigo KaiTen sendo dominado pelos guardas e pelas algemas terem quebrado nas mãos dele, aquela mulher que se tinha como sobrenome Morozov matava, a socos, um de seus aliados. Aquilo deixava Lei furioso, mas dessa vez não tinha jeito de fazer nada, aquelas algemas eram resistentes demais.

Neliel não desistia, mesmo tomando porradas e tranquilizantes ainda continuava se mexendo, e pela primeira vez em sua vida, Lei Fong não sabia mesmo, o que fazer. Até que aquela mulher loira conversava com ele. Propondo um jogo para ele. Se ele ganhasse, Kona seria salva, era como um pingo de esperança, pelo menos conseguiria salvar ela... mas onde arranjaria força para quebrar a algema? Ele não sabia como, mas tinha que tentar, era sua única chance.

Lei fechava os olhos pelos primeiros cinco segundos da contagem de Kiska, e quando o número 6 era pronunciado ele abria os olhos com uma determinação de dar inveja em qualquer um. Salvar Kona era o único objetivo, mesmo que seu corpo fosse destruído no processo. A garota, para ele, era tudo o que ele havia sonhado desde que conheceu Shen Shi e começou a treinar no templo Ishiyama.

Gritando e forçando todos os seus músculos ao máximo, ele tentava quebrar aquelas algemas. A força era absurda, era como se o corpo de Lei estivesse inchando a cada segundo que passava. Seus pulsos começavam a ficar roxos por causa da pressão que estava fazendo, e quando a contagem estava no oitavo segundo as algemas começavam a se rachar, ao ver aquilo, por estar dando certo, ele voltava a gritar com mais força ainda, e começavam a brotar veias por todo o seu corpo pela força que fazia. Estava excedendo qualquer coisa que já havia feito e aquilo era perigoso, mas já havia decidido que faria tudo o que estivesse em seu alcance para ganhar aquele jogo, confiando cegamente nas palavras de Kiska, mesmo sabendo no fundo que ela não era de confiança.

▼Seus olhos brilhavam num azul claro enquanto estava agachada ao lado de Kona esperando terminar sua contagem, ver aquele garoto se esforçar tanto lhe dava uma sensação boa,a determinação, a coragem ,a vontade de proteger, mas ela não olhava pra ele , estava mais concentrada no novo cigarro que estava acendendo▼

→ Seis...Sete....Oito...

▼No numero oito Lei já estava rachando as algemas, a vitória era sem duvidas dele, porém , naquele mesmo momento , os guardas disparavam vários tranquilizantes nas costas do rapaz, acabando com toda e qualquer chance que ele tinha de vencer▼

→ Ah..me esqueci... eu mandei eles atirarem em vocês caso tentassem escapar... erro meu.

▼Ela se levantava com a mesma calma de sempre e pegava sua arma, se posicionando atrás de Kona▼

→ Bom...onde é que eu tava? Ah sim... Nove...Dez...Ganhei.

▼Não demorava nem um instante a mais , ela puxava o gatilho no mesmo instante que falava ganhei , mirava a parte de trás da cabeça de Kona e errar daquela distancia era impossível▼

→ Mais sorte na próxima.

- Pessoal...

Kona não conseguia vê-los naquele estado , era doloroso demais , mas ela não parava de olhar , nem um segundo para seus amigos, e ao mesmo tempo usava todas as suas forças pra tentar se soltar, seus pulsos estavam cheios de arranhões e sangrando , de tanto tentar puxar ou se livrar daquelas algemas, mas era inútil , ela era fraca.

Ela tinha uma sensação estranha , desde que acordou , não sabia o que era, mas de algum modo sentia que deveria se preparar para o pior. Kona sabia muito bem, que era um grande atraso para aquele grupo , ela sabia que eles poderiam ir muito mais longe se não tivessem que espera-la , mas ainda assim ela não conseguia se separar deles , seus primeiros amigos, as pessoas mais importantes no mundo para ela.

As vozes e os esforços de cada um dos seus amigos chegavam até ela , e de alguma forma transformava o pesar que sentia em alegria , saber que eles não desistiriam nem mesmo naquela situação, encheu Kona de esperança , não por ela , mas por eles , ela agora tinha certeza que independente da situação eles conseguiriam superar.
Quando escutou a proposta de Kiska a Lei , Kona tinha certeza , ela teria que se despedir ali. Não havia mais jeito, o olhar daquela mulher deixou isso bem claro , ela nunca teve a intenção de deixar Lei vencer.

- Lei...

Quando via Lei dando tudo de si, Kona não conseguia segurar suas lagrimas, ela queria viver, ela queria continuar aquela aventura , pelo menos mais um pouco , tinha tanta coisa pra ver , tanta coisa pra experimentar, e tantos momentos pra criar, não queria que tudo acabasse ali, daquela forma.

Lei perdia o jogo, e Kona olhava cada um dos seus amigos ali com seus olhos cheios de lagrimas, mas como iria se despedir? Palavras? Um grito? Não...só havia uma maneira de fazer isso, Kona sorria , como sempre fizera independente da situação , ela sorriu a sua maneira idiota e desajeitada, e foi com aquele sorriso que ela perdeu sua vida.

Lei estava quase conseguindo, ele mesmo não sabia que tinha toda aquela força, estava até surpreso.

- QUEBRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA----!!!

Não conseguia terminar seu grito, toda a força que estava fazendo, simplesmente sumia. Os dardos acertavam suas costas... e poucos instantes depois ele caia no chão por não ter mais força alguma. Estava de bruços e ainda algemado, mesmo que as algemas estivessem rachadas.

Aqueles tranquilizantes o faziam ficar mole, mas não era o suficiente para ele não saber o que estava acontecendo a sua volta. Aquela voz de Kiska o irritava, estava se sentindo traído. Mas ela era o inimigo, então já era de se esperar aquilo. E agora via o rosto de Kona, sorrindo daquele mesmo jeito que o havia cativado a tanto tempo...

Em seguida, o som do tiro, e Kona caindo no chão a poucos metros de Lei. Ele ficava sem reação alguma, queria gritar, reclamar e surrar aquela mulher, mas não tinha forças... tudo o que ele podia fazer era ficar triste, e se culpar. Sua ignorância havia levado àquele momento.

Usando o pouquinho de força que ainda lhe restava, usava ambos os pés para se rastejar até o corpo de sua companheira. Ele já sabia que estava morta, e quanto mais se aproximava, mais seu rosto ia ficando com uma feição mais triste. Quando chegava próximo a ela, não conseguia mais se segurar, de seus olhos começavam a sair lágrimas e mais lágrimas.

- Me... desculpa... por favor... eu não consegui...

Sua voz saia de uma maneira muito fraca, que até quem estivesse por perto não conseguiria ouvir. E seu choro era bem silencioso, com o rosto de frente e encostado nas areias daquele deserto. Estava abatido, a imagem de Kona morrendo em sua frente não desaparecia de jeito algum, e aquilo fazia seu coração apertar.

Lei havia acabado de perder todas as suas esperanças e também a vontade de viver. Estava totalmente quebrado e a única ação que vinha de seu corpo eram as lágrimas caindo.

"Mas que merda esses covardes me injetaram? Tch..." A visão de KaiTen estava toda embaralhada, os sons abafados e o corpo todo dolorido. Após ter sido derrubado, tudo parecia mais agitado aos arredores, soldados chutavam alguem. Neliel? Mitsuko elevava muito a voz, mas nada superava os gritos de Lei. "Lei gritando? Tch... isso é novo, hahaha... espera, no que eu to pensando... isso não é hora de rir." KaiTen forçava sua mente a trabalhar e a imagem à sua frente se firmava bem no momento em que Lei falhava e Kona era morta por Kiska.

- ... Sayu-- Kona ! - Era o que conseguia murmurar.

De fato, KaiTen não se abalava com a morte da garota, tirando é claro, o fato de que ela lhe lembrava muitíssimo de sua irmã mais nova, Sayuri. Mitsuko gritava, Lei ia ao chão, Hideki... não sabia o que o garoto sentia ao certo e Neliel, bom, ela provavelmente ficaria triste mesmo não demonstrando. Naquele instante, o jovem Dragão sabia que não haveria o que fazer pois ninguem ali o seguiria, caso desejasse lutar. Então, aceitando seu destino, KaiTen entregava-se aos efeitos do sedativo e não reagiria mais contra seus captores. Guardaria suas forças para depois.

Neliel sabia muito bem que não conseguiria se livrar daquelas algemas , e muito menos dos guardas , mas ainda assim ela dava tudo de si para escapar , se esforçava e esforçava até o momento em que Kona era morta, naquele instante Neliel ficava imóvel , como um cadáver. Sua mente era preenchida de angustia , ela não podia mais ver as almas, não poderia ver pela ultima vez aquela misteriosa e pura alma transparente de Kona, não poderia mostrar o sorriso que a garota tanto queria ver. Mas sem lagrimas , sem gritos ou luta , ela apenas ficava imóvel, talvez por que já tivesse visto aquilo acontecer tantas vezes , que seu corpo parou de responder a tais acontecimentos.

A necromante se sentia pequena , como um pequeno rato em meio a uma multidão de pessoas , lutando para não ser pisoteado,  não conseguia olhar para nenhum de seus amigos, sentia uma forte dor no peito causada pela culpa, por ter jogado seus companheiros em meio a uma armadilha obvia.

"Sinto muito Kona, não consegui sorrir nenhuma vez no final das contas"

▼Depois de atirar em Kona , Kiska guardava sua arma calmamente e tirava o cigarro da boca, sua vontade de fumar havia subitamente acabado, ela o jogava na areia do deserto enquanto escutava os gritos de Lei e Mitsuko, apesar de escuta-los , ela parecia não se importar. Kiska levantava um dos dedos e o girava, um sinal para as tropas que eles estavam de saída▼

→ Tragam eles pra dentro , estamos saindo.

▼Os soldados tinham completa noção da força daquelas pessoas , por isso os manteriam sedados por toda a viagem, já Kiska se agachava ao lado de Kona e colocava a mão nos bolsos da garota como se procurasse por algo▼

→ Se me der licença.

▼Ela pedia licença a Lei que estava ao lado da garota , do bolso dela Kiska retirava um tocador de musicas, aquele objeto lhe havia chamado a atenção desde que chegara ali, era raro até mesmo em Skyhold , uma vez que não possuía nenhuma utilidade significante, ela guardava o objeto num dos bolsos que possuía ao redor da cintura▼

→ Não vai mais precisar disso.

▼Depois disso ela se levantava e caminhava em direção ao mesmo caminhão do qual havia saído quando chegou. Mas antes repetia as ordens aos guardas▼

→ Tragam aquele ali também.

▼Os guardas logo se encarregavam de carregar todos para os caminhões e também de seda-los constantemente, porém alguns guardas que ainda não haviam entrado nos caminhões perguntava▼

→ General, e quanto aos dois corpos? Não levaremos Davon de volta?

▼Kiska se encostava na beirada do caminhão, já sentada do lado de dentro , e só respondia alguns instantes depois▼

→ Não temos utilidade pra cadáveres, mexam-se.

▼Sua expressão não havia mudado nem um pouco desde o momento que chegou até o momento em que foi embora, como se tudo aquilo fosse apenas mais uma missão , mais um trabalho, mas no fundo ela adorava fazer aquilo, sempre gostou , antes mesmo de participar daquele experimento▼

▼O comboio começava a partir , e Kiska acendia outro cigarro, sua vontade de fumar havia retornado, e o brilho azul de seus olhos agora parecia menos intenso, sentada em meio aos outros soldados não parecia uma general de Skyhold, ela colocava os fones no ouvido e ligava, mas para sua surpresa▼

→ Ora...nenhuma musica.