O Dragão Festejante (Shukuen Ryu)

Iori estava vestindo um quimono verde escuro, e usando chinelas assim como Touya. Ele diferente de Airi estava nervoso, demais. Primeira vez em um festival, e se não aproveitasse aquele poderia ser que nunca mais veria outro tão cedo, uma vez que dias atrás estava bem pensativo e um pouco distante nos treinamentos, mas ele decidia que aquele dia ele iria se divertir ao máximo.

Touya enganava ambos, e deixava Iori sozinho com Airi, com as mãos dadas ainda. Fora tudo tão rápido que nem havia como reagir, ainda mais com a garota explodindo de raiva depois disso. Estava sendo puxado e arrastado pela pequena garota que Airi era. Seus 1,78 metros fazia a cena ficar bem engraçado ao ver de terceiros. Como ela estava tão furiosa, falar com ela era quase que impossível, sempre que tentava levantar a voz, era interrompido com uma fala afiada e agressiva.

Aos poucos Iori ia se endireitando e passando a acompanhar Airi, e agora ainda mais nervoso por estar segurando a mão dela e os dois estarem sozinhos.

- G-Garotas não deveriam falar essas coisas, Airi...

Respondia a última frase que Airi dizia, enquanto coçava a nuca. Procurava se acalmar daquele nervosismo, já que queria muito aproveitar o festival com Airi, depois de tanto tempo eles tinham a oportunidade de ficar sozinhos e só tinha a agradecer o pai dela por ter feito aquilo, mesmo que tivesse até surpreendido o próprio Iori. Por fim, parava com Airi em uma barraquinha que vendia taiyakis, e então pedia um com recheio de morango para ela enquanto ainda segurava a mão de Airi. Se ela ainda estivesse falando, Iori não ligava, e olharia para ela e estendia o taiyaki para ela.

- Toma. Pra você.

Airi estava tão nervosa que mal escutava o que Iori tinha a dizer sobre seus palavrões , ela tentava encontrar algo pra fazer mas então descobria que não tinha a minima ideia sobre o que fazer num festival , uma vez que nunca se interessou por eles antes. Antes que pudesse perceber Iori lhe oferecia um taiyaki doce.

Como já foi dito o organismo de Airi era muito frágil , tanto interno quanto externamente , por isso qualquer coisa diferente que comia em sua dieta acabava a deixando mal , ou pelo menos enjoada. Por isso sua resposta a Iori não era das mais animadoras. Com sua mão livre ela pegava na gola do quimono do garoto e aproximava seu rosto erguendo os pés, já que era muito menor que ele. Naquele momento Airi parecia um delinquente, o motivo era que estava realmente irritada com aquela situação inteira.

- Ei ei ei seu maldito , você quer me matar não é? É isso você quer se livrar de mim... Sabe muito bem que eu não posso comer essas coisas, ou você é burro? É isso não é? Você é burro... hahaha, tudo bem tudo bem.

De uma vez ela pegava o taiyaki da mão de Iori e comia violentamente.

- Dá isso aqui,  tá feliz agora? Eu provavelmente vou passar mal o resto da noite!

Depois que acabava de comer ela jogava o que restava no chão e ficava  ofegante no mesmo lugar. Puxava e soltava o ar devagar. E então depois de alguns segundos esperando aquele ataque de raiva passar.

- Ah..droga..tava gostoso, obrigada.

Airi sorria inocentemente para Iori , e naquele momento ela parecia a garota mais fofa e delicada do mundo, uma vez que já tinha extravasado toda a sua fúria.
Ela já havia percebido que sua mão estava segurando a de Iori , mas aquela altura isso não importava mais.

- Ali ,vem maldito , vamos pegar alguns peixes...

Iori já havia pago pelo taiyaki para o dono da vendinha, e já era tratado como um assassino por Airi. Naquele momento ela parecia mais assustadora que ele até, quando brigava na rua. E enquanto era segurado pela gola, Iori fechava os olhos e ficava rindo de um jeito bem nervoso, ainda segurando o doce que havia comprado pra ela.

- C-Calma Airi... hahahahaha!

Mas, mesmo o agredindo com palavras daquele jeito, Airi pegava o doce e dava várias mordidas. Diante de tanta agressividade e agora solto novamente, uma gota de suor brotava na nuca do rapaz, que ficava apenas a observando. Airi xingava bastante, ele já estava acostumado, mas naquele dia, aquela Airi era diferente até para ele, e com certeza era por causa de seu pai. E na mente de Iori, o rapaz ficava torcendo:

"Vai taiyaki! Faça sua mágica!"

Por incrível que pareça, depois que ela terminava de dar algumas mordidas, sua raiva passava. E ela voltava a ser a mesma Airi de sempre. O que deixava Iori um tanto chocado, que até brotava uma outra gota de suor em sua nuca. Porém, aquele sorriso que Airi esboçava ao agradecer pela comida acalmava completamente Iori. Era como se tudo o que tivesse feito valesse a pena.

Ainda estavam de mãos dadas, e agora ela queria ir até um jogo de peixinhos, onde o objetivo era pegá-los com uma pequena pá, mas Iori tinha algo para dizer, e durante o caminho dizia:

- Depois... tenho que te dizer algo, mas vamos nos divertir primeiro!

Agora que tudo havia voltado ao seu estado original, Iori estava bem mais a vontade e com certeza acompanharia a garota por toda a noite, queria se divertir ao máximo com ela no festival.

Desde que havia se separado de Sayuri, Heikki não embarcava em seu navio ainda. Ele ficava sozinho, andando pelas cidades, procurando cumprir a promessa que havia feito a garota, de que nunca iria mais vê-la, mas o pirata não conseguia sair de Dragonland, por algum motivo ele não conseguia abandonar completamente a garota e ele queria saber desse motivo.

Após alguns meses, a saudade apenas aumentava. Uma coisa era certa, Heikki havia se apegado a Sayuri, aquela garota o havia pego de alguma forma que ele nem mesmo percebera. Quando descobriu isso, ficou ainda mais difícil de se manter afastado, e aos poucos se aproximava, sem a consciência dela.

Sempre com um binóculo, e seu papagaio o acompanhando. O papagaio que foi o último presente dela. O pirata a observava o máximo que podia, sempre parando caso o disfarce estivesse prestes a se revelar. Uma vez que Sayuri não era tão despercebida assim.

Mas, naquela noite de festival, Heikki havia relaxado. Vê-la na yukata foi a causa disso. E ele nem havia percebido que seu papagaio havia voado até Sayuri. Quando percebia aquilo, era tarde. A garota já estava correndo até a árvore e a única chance dele era segurar a respiração. Já que aquela árvore ficava em um lugar aberto e se tentasse fugir seria visto de qualquer maneira.

"Droga! Fui descuidado. Por que fez isso papagaio idiota!?"

Ficava somente em seus pensamentos, esperando que ela fosse embora. Mas havia esquecido de algo, o olfato dela era ótimo e provavelmente seu cheiro já teria sido sentido. Ele percebia e era tarde demais, aquela pedra o acertava em cheio na testa e o pirata caia de cara no chão. Demorava alguns segundo para se recuperar, colocando uma das mãos na cabeça e mantendo seus olhos fechados.

- Ai ai...

Após reclamar levemente da dor, ficava sentado no chão e abria os olhos, vendo a expressão super séria de Sayuri. Ficava assustado e, ao mesmo tempo, desesperado. Para ele, a garota ainda estava com muita raiva dele. Heikki se ajoelhava e se sentava sobre sua pernas, bem ao estilo japonês, e mantinha suas mãos sobre as coxas. Mantendo a postura ereta, e acabava falando bem alto em meio ao desespero.

- ME DESCULPA! EU NÃO DEVIA TER APARECIDO!

O pirata abaixava a cabeça e fechava os olhos, arrependido por não ter realizado o último desejo dela, mesmo que ainda estava sem chapéu de pirata, uma vez que ele havia dado a Sayuri antes de partir, mas ainda usava sua clássica máscara de caveira.

- Me desculpa!

Heikki, realmente, não esperava aquilo. Sayuri estava o abraçando, por quê? Depois de tudo o que ele havia feito, ela mostrava que ainda o considerava, e a prova estava ali, ela se desculpava com ele e o perdão que o pirata havia pedido meses atrás finalmente fora ouvido. Ele sorria por debaixo da máscara, ele podia parar de se esconder agora, podia voltar a conversar com ela. E depois de tudo isso passar por sua cabeça, ele ria e acabava abraçando a garota também.

- É. Tem razão, eu preciso de um chapéu!

Ficava em silêncio desde então, até que ela resolvesse parar o abraço. Quando o mesmo terminasse, Heikki se levantava, colocando as mãos na cintura. Olhava agora para o festival, e então decidia puxar algum assunto, agora que havia feito as pazes com Sayuri.

- Sayu-chan! Estava se divertindo no festival? O que já comeu por aqui?

Sua voz estava bem radiante, e ele decidia retirar sua máscara, a colocando por dentro da jaqueta que vestia. Seu rosto mostrava que ele estava bem alegre, e esperando uma resposta da garota enquanto olhava agora para ela. Mas a verdade é que ele nunca tinha participado de um festival de Dragonland, e desde que havia visto tudo aquilo ficava com uma vontade enorme de participar, mas ele não conhecia nada sobre a cultura deles, não sabia se precisava ser convidado ou não, e também não queria atrapalhar em nada. Seus olhos desviando a todo momento para o festival indicavam facilmente isso, ele só não tinha coragem de perguntar se poderia.

Despreocupada , tranquila e aproveitando o festival ao máximo como ninguém, ao contrário de muita gente , Lin conseguia se divertir sozinha numa boa , brincava nos jogos , e comia tudo o que via pela frente. Mal percebia a garota que as pessoas estavam se afastando quando ela se aproximava , o grande motivo era que Lin cheirava a resto de comida, já que caiu no meio do lixo quando seu pai lhe arremessou, um detalhe, Lin ainda tinha uma casca de banana na cabeça e não percebeu.

Com o yukata todo sujo , por que parecia uma criança , pisando em lama, esbarrando nas coisas , e deixando comida cair nas roupas, o seu visual de "garota fofinha usando yukata" já havia sido a muito perdido, ela parecia ter saído de uma briga, mas a animação era a mesma , a garota nunca ligou pra esse tipo de coisa.

Enquanto comia um palito de takoyaki Lin percebia que as pessoas se aglomeravam por algum motivo.

"Está quase na hora dos fogos"

- FOGOS?! ONDE?!

Sem demorar mais ela procurava um bom lugar pra assistir, e esse lugar era ao lado de uma barraca de comida , afinal assistir aos fogos de barriga vazia não era uma opção.
Apesar de consegui se divertir sozinha , com mais pessoas sempre era melhor , "onde será que tá todo mundo?" ela se perguntava , enquanto pedia um algodão doce.

A expectativa pelos fogos era alta , Lin sempre gostou de assistir, todos os anos , mesmo quando não estava presente nos festivais , ela dava um jeito de ir pra algum lugar com visão para os fogos.
Enquanto mordia seu algodão doce ela escutava os gritos de Dante lhe chamando. Levantava a sua cabeça de repente procurando de onde vinha, e quando avistava o garoto acenava animada.

- DANTE!!! AQUI OIII! HAHAHA!

Sem entender do que o garoto estava rindo Lin se irritava, e com a boca cheia de algodão doce falava.

- Ei! O que é tão engraçado?

Na cabeça de Lin tudo estava normal , sempre estava suja de alguma forma , e seu nariz já havia se acostumado com o cheiro de lixo por isso não fazia ideia do que Dante estava falando. Mas estava feliz , seria mais divertido ver os fogos com alguém.

A contagem finalmente começava , e Lin desistia de tentar entender do que Dante estava falando.

-Vai começar! Olha! Olha!

Uma surpresa? Extremamente necessário para consumar seu amor? É claro que Kohaku estava disposta a experar , por todo o tempo necessário. Mas quando Dante a deixava em meio aquela multidão , acontecia algo pelo qual Kohaku não esperava, ela se sentia sozinha , se sentia desprotegida em meio aquelas pessoas estranhas , via seus rostos se distorcerem e faces que não via a muito tempo tomarem seus lugares, a garota ficava ofegante, como uma presa encurralada , sem saber pelo que estava sendo caçada.

- amor...mestre... a Kohaku tem medo..

Ela nunca sentiu medo de ficar sozinha antes , já que nunca tivera ninguém. Alguém que não se lembra de como é ter amigos e alguém para contar não sentirá falta disso , mas se você experimenta dessas sensações então dificilmente viverá sem elas. E era exatamente por isso que Kohaku passava naquele momento. Como estava sozinha pela primeira vez em muito tempo , em meio as pessoas estranhas , suas memórias escuras voltavam e o mundo inteiro parecia querer machuca-la. Por isso ela corria , corria procurando por Dante. Ela esbarrava e tropeçava nas pessoas em seu caminho, até que finalmente avistava Dante e Lin juntos. Em nenhum momento se quer considerou que Dante a estava enganando , por isso só conseguia se sentir feliz ao ve-lo.

- Amor! A Kohaku achou você!

Kohaku abraçava as costas de Dante com força , como uma criança abraçando seu pai depois de passar por algo terrível , e naquele mesmo momento , os fogos de artificio se iniciavam. Curiosa Kohaku também observava , e as palavras que Dante lhe disse vinham a sua mente.

"Algo para consumar nosso amor, é surpresa"

Ela não tinha palavras , não sabia o motivo mas aquelas luzes lhe davam uma sensação boa, mesmo não entendendo muito bem a diferença entre o feio e o bonito , aquilo tinha algum significado mesmo pra ela e finalmente ela sentia que havia dado um passo a frente em sua relação com Dante , mesmo que ele não fizesse ideia disso.

- Mestra Lin também veio, a Kohaku acha melhor assim.

A pequena Kohaku se sentava entre os dois , claro que abraçava apenas Dante , mas se não fossem tão jovens poderia se pensar que era filha deles, Kohaku era pequena , ainda menor do que Lin , e aquele momento ficaria marcado nas poucas memórias boas que tinha de sua vida.

Lin estava muito concentrada nos fogos pra pensar em sobre o que Dante queria falar com ela , ela se distraía facilmente, não era de proposito. Admirar aquele show de luzes fazia Lin se sentir ainda mais animada para sua viagem que se aproximava, queria que todas as pessoas do mundo pudessem experimentar momentos como aquele , julgava que todo mundo tinha o direito de ser feliz e de mudar pra melhor.

Só perdia a concentração nos fogos quando Kohaku chegava abraçando Dante. Lin adorava ver aqueles dois juntos, assim como adorava ver a melhora de Kohaku em relação a como era quando chegou,  se sentia responsável por ela definitivamente cumpriria sua promessa de faze-la ser feliz.

Enquanto admiravam os fogos juntos Lin pensava consigo mesma.

"Momentos como esses... momentos como esses...."

- Pedem por um abraço! Vem aqui vocês dois!

Lin pulava abraçando os dois , não conseguia conter sua excitação do momento, se sentia absurdamente feliz por ter seus amigos do seu lado naquele momento, mas não pensava nas consequências de se jogar sobre eles ali.

- WAAAAAA!

Ela acabava derrubando todo mundo no chão por cima da barraquinha de algodão doce, mas não era sua culpa (?) Lin não conseguia se conter , quando sentia vontade de fazer algo ela fazia.

Aquela noite havia passado tão rápido, mas Iori havia conseguido aproveitá-la ao máximo do lado de Airi. Passaram em todas as barraquinhas, ganharam até prêmios em alguns jogos, e um deles era um bichinho de pelúcia que ele tinha dado a Airi. Era um coelho roxo de tamanho mediano para um pelúcia.

Os fogos iriam começar, e sempre que o tempo daquela noite ia ficando mais próximo de acabar, Iori ficava pensativo, e também desanimado, mas sempre se colocava a sorrir novamente, não queria que aquilo que estava em sua mente atrapalhasse aquela noite, deveria ser a melhor noite!

Mas o show de fogos já estava para começar e a noite em seu fim, não podia mais fugir. Iori pegava na mão de Airi e dizia a ela:

- Vamos... tenho que te contar algo.

O rosto de Iori estava sério, e ao mesmo tempo triste. Tinha que dizer algo bem doloroso para a garota, e a levava até uma pequena colina, fora do festival, mas que dava para ver os fogos perfeitamente. E dava também para ouvir a contagem, que já estava no 5.

A personalidade "encantadora" de Airi fazia com que apenas Iori falasse com os vendedores , toda vez que ela tentou eles acabaram sendo expulsos da barraca. Mas apesar dos contratempos aquilo estava realmente divertido, sua missão fora um sucesso , ela conseguiu contrariar seu pai e se divertir sem constrangimentos.

Mas agora era o final , e Airi sabia muito bem o que viria a seguir. Desde o momento em que Iori falou que precisava lhe contar algo , Airi já tinha plena consciência do que estava por vir , ela era inteligente , e uma ótima analista por natureza, conhecia Iori muito bem.

A contagem finalmente acabava e Airi assistia aos fogos sem falar uma só palavra, inconscientemente ela apertava a mão de Iori com força durante o show. Quando tudo se acalmava , ela continuava olhando pra cima, e alguns instantes depois falava baixo, numa altura que só os dois poderiam ouvir.

- Você vai embora não vai?

Ele e Airi assistiam toda a apresentação dos fogos. Era lindo, e também dolorosa. Quando os fogos estavam acabando, sentia a garota apertando sua mão. Aquilo fazia seu coração bater mais forte, e ao mesmo tempo a imaginar coisas. Ele sabia que ela era esperta, e talvez das tantas vezes que ele ficava desanimado no festival, por conhecê-la bem, ela poderia ter descoberto algo. E isso se revelava como uma verdade quando ela fazia um pergunta a Iori.

O rapaz se assustava, mesmo que já tivesse suas suspeitas não pensava que ela havia deduzido aquilo. Sim, era a verdade, era a última noite de Iori em Dragonland, uma vez que seus pais são vigaristas e viajantes. Nunca paravam no mesmo lugar... ele suspirava e fechava os olhos, colocando sua cabeça baixa.

- Você é esperta mesmo... Airi.

O delinquente ria, e ao abrir os olhos olhava para a garota, e finalmente dizia o que ele estava segurando desde o começo do festival.

- Meus pais... vão sair de Dragonland e eles ainda precisam da minha ajuda. Eu tenho que protegê-los e por isso, eu vou embora.

Iori cerrava o punho de sua mão livre, uma vez que a outra ainda segurava a mão de Airi. Sua expressão facial ficava bem triste assim que terminava sua frase, mas ele não queria ir embora sem deixar nada... ele queria que Airi ficasse bem.

- Eu... sinto muito. Eu queria mesmo ficar aqui em Dragonland, fiz tantos amigos e você foi a mais especial... mas são meus pais, não posso deixá-los sozinhos...

Mesmo já sabendo a verdade , escutar o próprio Iori dizer doía mais do que ela esperava, uma das pessoas que Airi mais gostava , e um dos poucos com quem conseguia conversar estava indo embora, e não havia nada que ela pudesse fazer pra impedir. Numa mistura de raiva e tristeza Airi acabava dando mais um de seus ataques.

- Haha seus pais é? Aqueles vagabundos ingratos? E você ? Até quando vai servir de babá pra eles? Vai, vai ser melhor mesmo se vocês forem, menos um palhaço pra me atormentar!

Ela não parava de falar , e cada palavra era pior que a anterior , Airi conseguia alcançar os pontos mais fracos das pessoas , e jogar seus problemas diretamente nas suas caras. Mas ela não fazia por que tinha raiva de Iori , nem ela mesma sabia por que estava dizendo aquilo. Definitivamente não queria que o garoto fosse embora.

Airi começava a falar assim que ele terminava, e todos aqueles ataques começavam novamente. Era uma rajada, ela não parava de falar mal dele e de seus pais, mas Iori conhecia muito bem a garota, sabia que ela não queria dizer aquilo, os sentimentos dela estavam confusos. Por isso a cada palavrão que saia da boca dela, doía em Iori também, pela garota estar triste da maneira dela.

Seus olhos estavam fechados e não querendo que Airi ficasse daquele jeito, sem aviso algum, se virava totalmente para ela e lhe dava um abraço, bem forte. Começando a dizer bem alto, para que ela o escutasse, sua voz deveria ser mais forte que a dela para que Airi parasse com aquilo.

- Eu vou embora! Mas eu vou voltar! Assim que eu os deixar em um lugar seguro e acabar com todos os problemas, eu definitivamente vou voltar pra vocês! Por isso, me espere até lá Airi!

Iori estava sério, muito mais sério do que em qualquer momento em sua vida. Fazia aquela promessa com Airi, ele ainda queria vê-la novamente, aquilo... não era um adeus.

- Que idiota faria uma coisa dess--

Um abraço? Por que um abraço? Airi não conseguia entender e ficava realmente assustada nos primeiros instantes , mesmo se tivesse apanhado pelo que dissera não teria ficado tão surpresa, ela tentava se soltar nos primeiros instantes , mas sua força não era páreo para a de Iori.

- Me solta seu maluco, o que você..o que voc...

Por que seus sentimentos resolviam traí-la justo naquela hora? Por que tantas lagrimas saíam? Ela não queria ser a menina chorona, mas também não queria de jeito nenhum que o garoto fosse embora. Por isso a cada palavra que ele dizia sobre voltar a deixava mais feliz. Quando ele terminava de falar Airi o empurrava com força , e supondo que conseguisse se separar ali ela gritaria com ele , tentando esconder seu rosto.

- Seu....seu....palhaço....idiota....inútil....É BOM MESMO QUE VOCÊ VOLTE, EU ODEIO QUE MINTAM PRA MIM ENTENDEU?!

Ela passava a manga de seu yukata no rosto pra limpar, e puxava o ar forte com o nariz pra parar de escorrer. Se virava de costas com os punhos cerrados e falava.

- Até...até quando você voltar. To indo pra casa, tchau.

Airi caminhava com passos pesados e sem olhar pra Iori uma unica vez, aquele era seu jeito de mostrar que se importava, aquelas palavras mesmo que rudes , eram a forma que ela encontrou pra dizer o que sentia , e o que queria. Muitas vezes era mal interpretada , mas Airi era uma pessoa boa, e gentil ao seu modo.

Uma promessa, e via Airi agir daquele jeito. Se sentia mal por fazê-la chorar, seu peito doía muito, mas era necessário... e por isso havia feito a promessa, quando voltasse queria que tudo fosse como antes, queria se divertir com todos novamente.

Quando ela se despedia, Iori ficava somente a olhá-la ir, e quando ela já estava longe, ele finalmente colocava um sorriso no rosto, erguendo uma das mãos e gritando:

- AIRI! AVISE AO RYOUJI QUE QUANDO EU VOLTAR, SEREI MAIS FORTE DO QUE ELE!

O garoto ria bastante ao fim, mas não se passava muito tempo e ela já sumia de sua vista. O rapaz ficava sozinho, se espreguiçava e olhava para o céu, onde a pouco estavam estourando vários fogos.

- É... adeus Dragonland, até um outro dia...

Sua despedida de todo aquele reino, onde havia feito amigos, companheiros, e até mesmo um amor. Falava para si mesmo e já se retirava também daquele local e do festival que alcançava o seu fim.