Um Lobo Solitário

Shiori acordava cedo, fazia algumas fexões no quarto e tomava um banho antes de descer. Quando chegava na cozinha via tudo pronto e bem arrumado. Analisava cada coisa, um pouco pensativa.

- Frutas... chá... é, um bom começo... pelo menos este não explodiu minha cozinha.

Dizia, suspirando e se sentando. Comia as frutas, tomava o chá com calma e só então saia. Quando chegava do lado de fora, Jun já estava treinando. Ela o observava atentamente, vendo os pontos positivos e os pontos negativos da forma em que o rapaz lutava.

- é...este não vai me dar trabalho...

Dizia assim que chegava a alguma conclusão.

- Ataque sem abrir sua defesa, garoto! - Estava séria, mas aparentemente não estava brava, dava para notar no jeito que ela falava e até mesmo na expressão da garota. - Se abrir sua defesa, será mais fácil de perder.

Mal ouvia o conselho de Shiori e Jun já começava a reclamar. A garota suspirava em reprovação. Assim que ele se sentava no chão resmungando, a garota dava um tapa na cabeça dele um pouco forte.

- Se as coisas fossem fáceis, qualquer um poderia ser um bom lutador! Pare de reclamar e foque no objetivo que você tem, ficar forte para sei lá o que!

Assim que dizia aquilo, a garota ouvia ele falando do café da manhã.

- Hm... foi uma boa escolha, coisas saudáveis sempre são a melhor escolha.

Aquilo já revelava algo. Shiori nunca comia besteiras. Desde pequena, a filha de Daisuke e Amaya sempre fora o oposto de seu irmão mais velho. Nesse caso, a garota nunca comia doces, já o irmão comia todo tipo de doces. Ela também preferia mais as frutas, saladas, carne recém caçada. Adepta totalmente ao que a natureza oferecia.

- Chega de conversar! Vamos! Levante dai e tente o que eu te falei. Ataque sem abrir sua guarda. Vá fazendo até que o ataque fique perfeito. - Cruzava os braços e encostava em uma árvore, observando Jun. - Quando terminar vamos trabalhar você sem a lança. Se te desafiarem a lutar sem armas, você tem que ser tão bom quanto com a lança. Na verdade vamos trabalhar para que seja até melhor.

- Que seja.

Shiori era do tipo que fazia elogios ou agradecia algo. Assim que Jun se cansava, ela se afastava da árvore. Pegava a lança do garoto e só então falava.

- Descanse por 10 minutos. Depois comece a atacar novamente, mas dessa vez sem armas. Quando eu voltar quero ver progresso. Brân vai te olhar e mesmo que ele goste de você, ele é sincero, não mente nunca.

E ao final entrava na casa, colocando a lança do rapaz num canto.

- É...ele aprende rápido, talvez ele aprenda o que quer e vá fazer o que ele quer em algum canto...

Após guardar a lança de Jun, a garota saia e ia andar pela floresta para pegar algumas ervas que faltavam e arrumar um lugar em especial que sempre ia arrumar, a casa de seu antigo mestre. Aquilo na realidade ia ocupá-la por um bom tempo, mas Brân ficava para observar Jun.

Shiori havia se irritado muito no dia anterior e agora que passou uma boa parte do tempo limpando e arrumando a casa de seu antigo mestre, além de voltar e checar como Jun estava no treinamento que havia passado e passando mais lições, a garota estava cansada. Ela pensava que nunca mais ficaria daquela forma depois de treinar a filha dos líderes de Dragonland e agora tinha um novo dissipulo para treinar. Sem pensar duas vezes, ela pegava uma toalha, algumas roupas limpas e ia para as termas que haviam na floresta e que sempre relaxavam a garota.

Ao chegar no lugar, ela se despia e entrava na água, deixando uma toalha por perto. Nunca teve que se preocupar em checar se havia alguém por lá, já que as pessoas nunca iam para aquela parte da floresta. Quando estava na água, encostava em uma pedra e fechava os olhos, relaxando.

- É... Esse treinamento vai ser irritante, mas... tudo bem. Vou me manter firme até o final quando finalmente vou relaxar sozinha novamente...

Dizia para si mesma enquanto estava de olhos fechados.

Shiori também não notava que Jun estava entrando lá. Ela ainda estava de olhos fechados quando ele acabou entrando do lado dela. Porém ao ouvir a voz do rapaz a garota abria os olhos, ficando vermelha e com uma expressão surpresa.

- O QUE VOCÊ...

Antes mesmo de concluir o que dizia, seu mecanismo de defesa agia sozinho. Um estalo era ouvido e uma luz muito forte surgia. Jun poderia sentir como se tivesse recebendo uma corrente elétrica muito intensa ou como se fosse atingido por um raio. Aquela era a barreira que Shiori sempre usava e que agia sozinha em defesa da garota com o susto que Shiori havia recebido.

O estalo, o brilho e por fim o grito de Jun. Shiori via o corpo do rapaz boiando na água. Aquilo era desesperador. A garota pegava Jun e o tirava da água. Em seguida chegava os batimentos cardíacos do rapaz.

- Merda! Por que ele tinha que aparecer assim? Tsc...

Se vestia rapidamente e cobria Jun com uma das toalhas. Em seguida o pegava no colo e o carregava para casa correndo. Ela tinha que resolver o que tinha causado de alguma forma. Quando chegava na cabana, dava um chute na porta e levava Jun para o andar de cima. O deitava na cama, pegava o Kit de primeiros socorros, cuidando das queimaduras que ele tinha no corpo e ficava sentada ao lado dele com a mão no pulso do rapaz o tempo todo. Queria ter certeza que ele não morreria daquela forma. Ela ficaria daquela forma até que ele finalmente acordasse. O tempo ia passando e nada, a garota chegava a pegar no sono, mas sem soltar o pulso do rapaz. Brân também ficara preocupado e ficava lá o tempo todo, mas sem dormir.

Shiori estava calma, apesar de não soltar o pulso de Jun mesmo dormindo. Porém a voz dele a despertava. Abria os olhos lentamente e virava o rosto, olhando para o rapaz. A princípio ela parecia serena como quando olhava as estrelas, mas quando prestava atenção no que ele dizia, ela ficava séria novamente.

- Você é estranho... Bem, se é o que quer, nos próximos dias vai ficar se recuperando. Qualquer um teria morrido com essa descarga elétrica que você recebeu. Depois, quando estiver 100% nós treinamos isso.

Assim que dizia aquilo, ela dava uma última checada no pulso do rapaz e então finalmente o soltava, se levantando.

- Te empresto minha cama enquanto se recupera. Se precisar de mim, vou estar na sala.

Ela pegava algumas coisas e então descia, indo para a sala, se deitava no sofá e dormia novamente.

Duas semanas se passaram e nessas duas semanas Shiori cuidava de Jun tova vez que um trenamento terminava. Aquela determinação de Jun, mesmo com tanta dor e sendo perigoso a ponto de levar a morte dele, chamava muito a atenção da garota. Era algo que ela não conseguia entender de forma alguma.

Naquele dia em especial, os dois corriam da tempestade, chegando na caverna. A garota estava toda molhada. Se sentava num canto e Jun puxava um assunto aleatório. Ela o olhava um pouco confusa, mas acabava respondendo. Fazia tempo que ela nem pensava mais no porque que Jun agia daquela forma, deixava apenas tudo fluir naturalmente.

- Hm, sim. Não queremos que ninguém fique de cama novamente por levar um choque muito grande não é? haha

Shiori estava brincando com Jun? Isso era algo extremamente raro. Até mesmo o fato dela rir depois de falar algo já era um fato novo. Ela acabava ficando pensativa. Por que estava agindo daquela forma? Shiori acabava ficando confusa consigo mesma.

- Não abuse tanto da sorte...

Era o que respondia quando Jun continuava a brincadeira. Apesar de parecer algo que ela realmente diria, ela ainda sorria.

Apesar das brincadeiras, a chuva continuava e a dupla estava muito molhada. Shiori acabava ficando pensativa e Jun acabava tirando a camisa. Por um momento ela chegava a corar, mas ignorava um pouco, voltando a pensar. Tinha que ter algo naquela caverna, algo que o vento pudesse ter carregado durante os anos. A garota começava a procurar algo, enquanto tremia um pouco de frio. Jun novamente fazia um comentário.

- Já não viu o suficiente nas termas?

Era uma brincadeira, mas o tom dela saia sério pelo fato de ainda estar procurando algo naquela caverna. Demorava alguns instantes e finalmente achava um punhado de folhas e alguns gravetos.

- Hm... Sorte, mas não vai durar muito...

Pegava as coisas e ia para onde Jun estava.

- Quer ver um truque?

Assim que falava aquilo, Shiori juntava os gravetos e algumas folhas, guardando outras para depois. Era então que num estalar de dedos um pequeno raio atingia os gravetos e as folhas, gerando uma pequena fogueira, que poderia servir para algo.

Shiori acabava se sentando ao lado de Jun, olhando para o fogo e ouvindo o que ele dizia. Sempre que o fogo ia diminuir, jogava algumas folhas, aumentando novamente a intensidade do fogo.

- Eu não sou incrível...

Dizia em resposta, sem desviar o olhar do fogo. Ela estava serena. De alguma forma sempre que ela ficava com o olhar preso em algo por muito tempo e pensativa, ela acabava ficando com uma expressão serena.

Quando finalmente parava de pensar, a garota deixava de olhar para o fogo e olhava para Jun. Os olhos dela encontravam os do rapaz e chegava a corar um pouco sem notar.

- Talvez... - Essa era a resposta dela para a maioria das perguntas que Jun fazia.

Aquelas palavras faziam o coração de Shiori bater mais rápido. Era algo novo para a garota, assim com para Jun, mas ela não era romântica como ele. Tudo o que conseguia falar era a primeira coisa que surgia em sua mente.

- Eu não sou gentil... nem tenho o sorriso lindo...

Mesmo dizendo aquilo, a garota não conseguia desviar os olhos dos de Jun e nem tirar sua mão de baixo da dele. Ela parecia confusa e perdida nos próprios pensamentos novamente. Shiori tentava achar uma explicação lógica em sua mente para tudo aquilo, mas não encontrava. Por fim acabava desistindo e deixava tudo rolar naturalmente.

Num dos becos , longe da multidão , estava Katherine falando ao celular , precisava de privacidade para falar com as pessoas de seu "trabalho" , por isso foi tão longe para atender aquela ligação , interrompendo suas tão adoradas compras, que pretendia levar até a casa de seu sobrinho.

- Tenta se acalmar, não somos assassinos! O que você...

Ela parecia irritada , a conversa não parecia estar indo bem.

- Nossa missão é trazer a liberdade para as pessoas, TODAS as pessoas. Não é por que fizeram algo de errado que merecem morrer. Você sabe muito bem disso.

Ela suspirava , como se percebesse que não adiantava ficar falando ao telefone , e que deveria resolver a situação por si mesma.

- Olha, estou voltando pra Shadowrealm, tenta não estragar ainda mais as coisas antes de eu chegar ai.

Katherine não parecia nada feliz com o resultado da conversa.

- Preciso de um navio no porto central, arranje um pra mim.

Ela desligava o celular impaciente , e olhando pro céu resmungava pra si mesma.

- Dante meu bebê...não vou poder te ver dessa vez...

Olhando para ambos os lados, Kate voltava a caminhar, não tinha muita habilidade com auras , nem em sentir a presença de outro guerreiros, por isso se retirava. Mas um brilho pairava em seus olhos , como se durante toda aquela conversa , já tivesse algo em sua mente.